Bem sei que nem todos sofrem com as diferenças sociais, mas o meu coração fica pequenino com a impotência que sinto por não poder fazer nada para melhorar a vida deles. Na sua maioria são até desprezados pela sociedade que lhes deve tudo. E o meu coração encolhe por não poder fazer nada.
Imagem daqui |
Lembro um Natal passado.
No dia 24, eram seis da tarde e a loja ia fechar. Um senhor, tomava o seu chá na padaria ao lado. Impávido e sereno. Sem sequer ouvir que a loja ia fechar. Nem o relógio olhava, porque não tinha. Tomava um chá quentinho e aquecia as mão na chávena... E ficou ali... até alguém lhe dizer que tinha de sair. Não estava atrasado... porque não tinha ninguém à sua espera.
Dói o coração pensar que amanhã podemos estar naquele mesmo lugar, com uma chávena de chá.
É horrível.
Sendo certo que tirei Enfermagem e que, em estágios, passei por unidades de cuidados continuados e lares de terceira idade, desenvolvi uma arma de defesa que não me permitia deixar a emoção fluir quando era posta de frente com dificuldades e desigualdades sociais.
Algumas foram as pessoas que se foram nos meus braços, quando eu tentava amparar-lhes, pelo menos, a dor. Com tal, cobri o coração com um manto que não me permitia sofrer por eles e pela família... Se assim não fosse, quem ia precisar de internamento era eu!
No entanto, e por já ter uma vida profissional numa outra área que não a do meu curso, devo ter ficado mole ou perdi o manto de protecção do coração...